segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Razões

O ódio tem a sua cristalização; mal temos a esperança de nos vingar, começamos a odiar.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Infantilidades

Como me andei a enganar todo este tempo?

Simplesmente, tu não serves para ser adulto.

domingo, 21 de setembro de 2008

Diário 3

Viajar. Hoje viajei sem ti. Costuma viajar contigo ao meu lado, sem tu saberes, sonhando com o dia em que viajaria, em realidade, comigo. Iamos de comboio até ao verde, eu ensinava-te a ouvir os passos dos esquilos, tu ensinavas-me a relaxar e a sentir a paz à minha volta. No meu sonho, eu recebia mais do que dava. Na verdade, sempre dei mais do que recebi.
Não fosse hoje adormecer cedo à custa de 3 comprimidos diferentes que tomo todas as noites, passaria as mesmas em branco a pensar no que estarias a pensar. É decadente, eu sei, e mortifico-me por isso. Eu, uma mulher tão independente e fria, e calculista, e orgulhosa, deixei-me cair de tal forma, que roça a vergonha. Devia ter vergonha do que penso. E o que penso é muito pior do que isto que escrevo aqui.
E porque escrevo aqui. Porque tenho de o fazer. Tenho de dizer a um mundo cego que sofro, mas não quero ouvir perguntas. Custa-me falar sobre isso, falo porque ninguém mo pede, e isso facilita. Quando estou numa sessão de psicoterapia, as palavras custam-me a sair, é uma obrigatoriedade falar e pensar e sentir. Sinto-me idiota a falar de assuntos idiotas e de soluções idiotas pata aprender a viver num mundo idiota.
Por exemplo, um amigo meu vai dar uma festa. Eu vou. Mas ele – ele, o terrível, tu, o terrível – também vai, mas mais tarde. Vou ter duas horas para me divertir, e depois ir-me embora antes de ele chegar, porque não me quero cruzar com ele. Ora, isto é claramente idiota. A decisão é idiota, a acção é idiota, e o facto de tu ires é uma idiotice pegada. Não me sabes deixar em paz? Pedi tantas vezes para irmos a festas, e a esta vais? Agora, que já nada vale a pena?
És e foste e será sempre um desperdício do meu tempo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Exorcismo

Hoje não quero saber se estás bem ou mal. Não quero saber se estás furioso, doente ou triste. Não quero saber se existes. Queria apenas ter na mão um punhal preto e prata, de ritual, para exorcixar os meus espirítos, o meu mal.

Com ele cravava-te o coração, mas olhos nos olhos; haverias de ver o meu olhar enquanto eu te matava lentamente, com a lâmina afiada e sem misericórdia, não um olhar demente, mas lúcido, perfeitamente ciente do crime que estava a cometer.

No fim de contas, estava a cometer o mesmo crime que tu.
Apunhalaste-me mesmo no coração, sem miserocórdia nem perdão, mas desviaste o olhar, pois não querias ver o sangue.

Olho por olho, dente por dente; o que entre nós haveria de ser diferente é que eu te iria olhar nos olhos, para que soubesses que era eu a criminosa, e que não tinha medo de te enfrentar, de te magoar, e de te deixar nas sombras.

Deixaste-me morrer, mas renasci. Falta fazer o mesmo a ti.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Dedicado a um dos maiores cobardes da História da Humanidade


Adivinha, qual é a que te assenta melhor?
Todas.



A cobardia é a mãe da crueldade.

Em que consiste a pior das cobardias? Parecer-se cobarde perante os outros e manter a paz ? Ou ser-se cobarde perante nós próprios e provocar a guerra?

Os cobardes morrem várias vezes antes da sua morte; o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.

A diferença entre os corajosos e os cobardes é esta: os primeiros reconhecem o perigo e não sentem medo, os segundos sentem medo sem reconhecer o perigo.

Cobarde é aquele que não abre novos caminhos na vida, nem emprega as suas forças para enfrentar os obstáculos.

Ver o que está certo e não fazê-lo é cobardia.

Cobarde é o homem que numa emergência perigosa pensa com as pernas.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Diário 2

Hoje os dias parecem-me mais compridos de dia, e mais curtos à noite... chego às 21:00 e já tenho vontade de dormir. Sei que te magoei hoje e isso vai-me tirar o sono, pois magoar que amamos é magoar-nos a nós próprios. Uma parte de mim gostava de te dizer “boa sorte, espero que sejas feliz ao lado da pessoa que amas” mas essa parte tão humana que é o nosso orgulho e a nossa autoestima, que por mais baixa que esteja, tem de estar sempre por cá, não me deixa nunca dizer isso. Tens de sofrer; não sofrerás metade do que eu vou passar, mas por algo terás de passar. A tua culpa? A desonestidade. Ninguém pode obrigar ninguém a gostar de alguém, mas dizer a verdade, ser honesto e sem artifícios sempre foi uma coisa muito bela. Tu falhaste nestes três pontos. Redondamente. Falhaste tanto, mas tanto, com alguém que te poderia ter compreendido tão bem. Nunca te pedi nada, e havia uma razão para isso; estava à espera do dia em que me contasses a verdade. Esse dia veio tarde demais. Veio muito tarde. Veio de noite, na noite escura da minha depressão galopante, onde me afundava cada dia que passava. Tu desconfiavas, mas não querias ver. Pensaste que era por ti. Não, meu querido, é pelo mundo que estou em agonia. Desse mundo agoirento e de pó e de mentira do qual fazes parte. Do qual eu também faço parte.
Hoje magoei-te, e senti as minhas próprias palavras na minha própria carne. Li a mensagem vezes sem conta, pensando como aquilo me magoava, e como talvez me magoasse mais a mim própria do que a ti. Sempre duvidei que tivesses sentimentos genuínos. Que fosses minimamente sensível. Nunca mostraste essa faceta, a não ser quaqndo eu te punha entre a espada e a parede. Da última vez, só faltou chorares, a implorar para que eu parasse. Agora compreendo porquê. Não estragaste o dia dos meus anos, estragaste um pedaço da minha vida. Um pedaço do meu tempo. Tarde demais, pois o tempo é irrecuperável. Disseste-me que não te arrependias de nada; eu devia ter desconfiado quando me disseste isso, mas as mulheres apaixonadas são ingénuas e cegas, e não vêem o óbvio; “não me arrependo de nada do que fiz, AGORA que a situação mudou”, era este o fim da frase. Da frase que nunca acabaste, e que eu agora acabei por ti.
Eu arrependo-me de te ter deixado entrar na minha vida, porque agora não consigo deixar-te sair. Estou a mentir quando digo que não temos mais nada para falar; temos um rio de palavras para trocar. E nem todas necessariamente más. Mas eu não te quero ver. Custa-me olhar para ti. Ver-te é ter-te perto da vista – perto da vista, perto do coração. E eu não te quero perto do meu coração. Não te quero mais perto do meu coração. Nunca mais.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Como aceitar isto?

Hoje acordei com a mente inquieta. A conversa de ontem tirou-me o sono. Estivemos a falar de como o conceito de humilhação pode ser relativo. Para mim, ter sido trocada por outra é humilhante, para as minhas amigas, é uma coisa que vai-me dar apenas mais força, pois o ter sido trocada não quer necessáriamente ter sido trocada por algo, comparativamente, melhor. Mas é sempre humilhante, pensar o que os outros pensam de nós. E não os desconhecidos, mas sim os amigos. Esses são os que eu mais temo, são os pensamentos deles que mais me aterrorizam e mais me apoquentam. Por isso é que o conceito de humilhação é relativo, só a pessoa humilhada é que o vê, as outras em redor acham sempre que é exagero. A obcessão pela humilhação aos olhos dos outros não é mais que uma hipérbole, mas eu não sei se sofro mais por saber que ele está com outra, ou por saber que os outros sabem que ele está com outra. Sim, chamem-me louca, mas é assim que eu penso. E digo isto no português mais límpido e clássico que conheço, sem figuras de estilo ou floreados a estragar o ramalhate do translúcido.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Diário 1

Hoje decido que vou começar uma nova vida. Primeiro, vou aprender a chorar. A chorar a sério, não aquelas lágrimas de crocodilo que costumo lançar ocasionalmente, quando a vida não me corre bem. Chorar a sério, como quando chorei ao colo da minha mãe, no dia em que ele me disse (embora por outras palavras, nada concretas) que não me amava. Nem hoje, sabendo que ele ama outra pessoa, sabendo que está prestes a estar com ela, me dói tanto como naquela noite me doeu a negação dele em falar comigo. “Não te queria estragar o dia de aniversário”. Estragaste-o, de alguma forma, quando disseste “mereces alguém melhor que eu”. Isso é o típico cliché para quando um tipo não sabe como dizer à miúda “não te quero”. Mas o ouvir o “não” é fácil, mais fácil que aquilo que me fizeste. Encaixa melhor resolver a história ao vivo e a cores. E a história faz-se de momentos, momentos em que as pessoas falam, sussurram, decidem, fogem, temem. Não se faz de momentos em que fugimos dos momentos. Isso é apagar qualquer rasto marcante, ou positivamente marcante, que se possa ter. Mas a tua mensagem hoje não me fez chorar. Fez-me engolir todas as lágrimas que chorei por ti, pois foram inúteis, tu nunca as mereceste, nunca fizeste um esforço para as merecer. Nunca tiveste a coragem de me chamar e dizer as coisas pelos nomes. Nunca quiseste falar comigo. Eu implorei-te tantas vezes, “não digas coisas agradáveis, mas diz”, e tu sempre te remeteste ao silêncio. Esse silêncio que cavou o fosso gigantesco que há entre nós dois, agora e sempre. Adquiriste um peso na minha vida a que nunca tiveste direito, e que eu, erradamente, te dei. Sim, porque o erro maior foi meu; a carne é fraca, e tal alma seguindo a luz, segui-te, respeitando o que o meu coração ordenava. O coração é mau conselheiro, eu sei, mas desta vez resolvi ouvi-lo. E dei-me mal. Devia ter mantido a distância que nos faz ser insensíveis, mas ao mesmo tempo quase imortais, intocáveis, idolatráveis. Gostar de ti fez com que os outros me vissem como humana. Eu, figura habituada a habitar neste Olimpo só meu, intocável, gélida e perfeitamente insensível aos avanços do coração. Saí derrotada, pois o meu maior pecado, meu caro, não é a ira, é a soberba. Tive de engolir o meu orgulho e admitir que sofri e sei o que é sofrer por amor. Como posso agora voltar a subir para o pedestal, meu amor? Derrubaste-me, e eu não tenho ajuda para subir, pois ninguém no seu perfeito juízo vai ajudar outro a ser seu superior. Choca-te saber que eu me achava superior? Calma, nunca inferiorizei ou humilhei ninguém, pelo menos ninguém que não o merecesse, mas tinha aquela aura de dama intocável, a quem o tempo passa, mas nada muda.
Eu gostava quando era assim.
Decidi mudar de vida.
Decidi que quero voltar ao pedestal, mas vou ter de fazer a longa caminhada, de novo, sozinha. E para isso preciso que te afastes; cada centímetro de proximidade de ti, é cada centímetro que estou mais longe da minha auto-estima, que tanto quero recuperar. É esse o meu (nosso) pedestal, o de acharmos que somos o máximo, sem excluir a possibilidade de que os outros também o poderão ser.
Chorar como naquela noite, véspera dos meus 26 anos, em que chorei um rio, como há anos não o fazia. Foi nessa noite que me apercebi que nunca irias gostar de mim. Nunca me amaste verdadeiramente, e sabes que me fizeste crer que isso era possível. A mim, e a todos quantos seguiam a nossa pequena novela.
O zolpidem está a começar a surtir efeito. Eu quero dormir esta noite. Não quero sonhar contigo. Menti à minha amiga, disse-lhe que ia resistir aos fármacos, mas foi com relativa facilidade que tomei o sonífero, e outra coisa qualquer que o médico me receitou, para me acalmar. Nome curioso, topiramato.
Espero que eles não reparem nela. Será uma tremenda humilhação para mim. Ser trocada desta forma… tu não tinhas o direito… não depois do que se passou entre nós… de todas as conversas de cumplicidade, de todos os sussurros, de todos os toques… não podias ter feito isto. Tens razão, és mau. Estou apaixonada por uma pessoa de mau carácter. O que é que é pior? Estar apaixonada por um homem que ama outra pessoa, ou estar apaixonada por um homem que é mau carácter? Ah, já sei, pior mesmo é estar apaixonada por um homem de mau carácter, que ama outra.
Tenho de ir, mal vejo já as teclas.
Abençoados comprimidos.
Vou começar uma nova fase da minha vida.
...

#1 - Ler



Para lidar com a doença que há anos me atinge, a minha psicoterapêuta recomendou-me este livro, o qual, não fosse o facto de ter perdido a concentração e a capacidade de fazer a mesma actividade mais do que 20 minutos seguidos, já teria devorado completamente. Embora não seja (pensamos nós) bipolar, sou um pouquinho - felizmente - menos que isso, identifiquei-me desde logo com esta mulher - este ídolo o qual já adoptei desde o primeiro capítulo.


Leiam, estejam ou não à deriva. Ou melhor, todos nós estamos sujeitos a estar à deriva. Só que, antes de estar, nunca desconfiaríamos de nada...